segunda-feira, abril 28, 2008

Quarto 308

Ouviu um som como se fosse um estalo oco de um bongo.
Pé ante pé arrastou-se até a porta apoiada no suporte do soro, espreitou com receio. O silêncio entupia o corredor deserto. Mais um estalo e um arranhar de sulcos estranhos. Seriam passos ou barulhos da noite?
Atirou-se de soslaio penetrando no corredor, sombras pernoitavam dispersas ocupadas em si mesmas, contando estórias de batalhas e vivências passadas.
Seguindo o som que vinha do quarto ao lado, sentindo um arrepio percorrendo-lhe o corpo, aproximou-se da porta verde opaca de tantas mãos percorridas. Era simples, sem qualquer motivo ou relevos, sem contornos especiais. Era como se fosse um rectângulo verde torneado por uma lista veludo verde.
A porta estava entreaberta e via-se um fio de luz sublinhando o chão. Aproximou-se lentamente, sentia o silêncio confundir-se com as batidas do seu coração, ou seria o ranger das rodas do suporte do soro que arrastava consigo?
A sua mão trémula – com o cateter embebendo-lhe analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios – tocou suavemente a porta verde, que se via mesmo no cimo da porta, o número 308.

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