o Velho e o Novo

ele sorriu, com aquele seu jeito de quem sabe perdoar a insolência dos adolescentes.
- tudo o que nos acontece na vida, está lá para alguma coisa: para aprendermos, para saborearmos, para reflectirmos, para sorrirmos… - a idade permite-lhe falar sem rodeios:
– todos os nossos erros servem para aprendermos,
todos os momentos de felicidade servem para os saborearmos,
todos os acontecimentos marcantes servem para reflectirmos,
todas as pessoas que conhecemos e
as que já fazem parte da nossa vida, fazem-nos sorrir.
Aquele ser pequenino aconchegou-se mais nos braços velhos de cansaço; é tão pequeno, tão frágil, tão inocente, tem tanto para aprender.
O Velho embala-o com cuidado mas com firmeza. Canta-lhe sorrindo com o olhar com toda a sabedoria de um longo caminho percorrido.
- o importante é iluminarmos todos os dias com Fé e Amor,
respeitarmos o ar, a vida, as pessoas, a nós mesmos,
sorrirmos à manhã que nos acorda mesmo que o Sol se esconda de nós
dizermos bom dia ao pobre, ao perdedor, ao rico, ao doutor, à mulher da vida,
e bem no nosso coração pedir que o dia deles seja melhor hoje do que ontem.
O bebé sorriu e por detrás da chupeta soou murmúrios indecifráveis, mas o Velho concordou – Vai ser um Bom Ano sim!
o Velho e o Novo juntaram-se numa cúmplice emoção, são muito parecidos; por detrás das mãos cansados de um existe a mesma força e o mesmo calor que as mãos pequeninas de pele rosada do outro; por detrás das rugas de um existe a mesma alegria, o mesmo amor, a mesma ternura que a pele macia do outro;
- sim, vai ser um Bom Ano!
e… o Velho caminhou sem olhar para trás…. tinha chegado a hora, o Novo sabia, sentia, ….